"Eu Sou Especial?": A criação do meu primeiro livro infantil.

Este livro não foi feito para ser um livro como todos os outros. Ele foi criado a partir de uma memória de infância e é composto por milhares de fragmentos de pequenos sonhos da jovem Robbie. Os sonhos são feitos de partículas de esperança. Somos levados a acreditar que sonhos precisam ser grandes e inatingíveis. Mas cada pequeno sonho importa e cada pequeno sonho é um fragmento de um sonho maior. E foi assim que, ao longo dos anos, consegui juntar vários pedacinhos de pequenos sonhos para tornar este livro real.

Projeto feito à mão da primeira versão do livro.

A criação desse livro começou lá em 2015, quando comecei a dar os primeiros passos, pouco confiantes, para seguir o meu sonho de publicar livros e histórias que poderiam fazer a diferença na vida das pessoas.

Eu tinha a história, as personagens, a paleta de cores. Mas tinha um pequenino problema... Imaginei todas as ilustrações em aquarela. Não me pergunte como isso aconteceu. Eu também não sei. Só sei que com lápis de cor eu não conseguiria fazer os efeitos que estavam na minha cabeça... 

Primeiro eu tentei com pastel seco. Fiz o livro todo, montei as páginas, editei, imprimi e encadernei. Foi um grande fiasco. Mostrei para parentes e amigos e todos gostaram. Estava horrível e eu sabia disso. Não era o que eu queria.  “Bom” - pensei – “acho que já está na hora de ‘tomar vergonha na cara’ e aprender a pintar com aquarela, senão você nunca vai ficar satisfeita”.  

E foi o que eu fiz. 

Era setembro de 2015. Guardei meu estojo de lápis de cor novinho e caro que eu tinha acabado de comprar, fui à papelaria e comprei o estojinho de aquarela mais simples e barato da Pentel, um bloco de papel aquarelável de uma marca desconhecida e barata e alguns pincéis. Eu precisava aprender a pintar com aquarela. 

E eu aprendi.

Levei anos estudando aquarela e ilustração de livros infantis até finalmente publicar este livro. Exatamente 10 anos. Nós nunca sabemos o caminho que o Destino quer nos guiar e o tempo que levará para realizar os sonhos. Mas se você não desistir deles e lutar por eles, certamente terá sucesso. Resiliência.

Alguns anos após o primeiro modelo, e entre um desvio ou outro ocasionado pelo Destino, comecei a reimaginar a história e os personagens. Nesse ponto, já dominando a aquarela e com o conhecimento de design de livros infantis, eu já sabia que queria criar uma montagem entre o mundo real e cortes de papel que representavam a imaginação da personagem. Além de misturar os materiais utilizados. Só a aquarela não seria suficiente para representar a imaginação de uma criança.

A imaginação de uma criança é um ambiente fértil, mas ainda não é flúida e confiante como a aquarela, onde a água faz seu caminho e não pode ser controlada. A imaginação de uma criança é como lápis de cor e giz de cera: colorido e rústico, com linhas fortes e firmes, se esforçando para aprender a controlar seus sentidos e deixar sua marca no mundo.

O livro remete à imaginação da infância, vivido do ponto de vista da pequena Joana.

Primeiro ela se chamou ANA, depois BIANCA , DUDA e, finalmente, decidi por JOANA.

Minha mãe sempre me contou uma história sobre este nome. Seu avô Hugo dizia que o seu nome era Joana em russo, mas a minha mãe se chama Vania. Eu achava essa história engraçada: "Como Vania pode ser Joana?" Isso não fazia sentido para a minha cabeça de criança, "Vania é Vania e Joana é Joana", eu pensava. Quando tive acesso à internet na juventude, pesquisei esse mistério e descobri que "Vania" é o diminutivo do nome russo masculino "Ivan", que é a versão russa de "João". Como minha mãe é mulher, o feminino de "João" é "Joana". E o mistério estava desvendado! Então eu quis acrescentar este pedaço da nossa história aqui.

A Joana já se chamou Duda por um breve período.

Agora eu preciso contar uma outra parte da minha vida para a criação deste livro fazer sentido:

Eu sou Piloto de Navios. Estudei na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante e passei anos da mina vida trabalhando em diferentes tipos de navios e em diferentes países.

Esse não era o meu sonho, mas era um caminho que eu precisava percorrer. O Universo tem dessas coisas... precisamos seguir caminhos estranhos até tomar coragem para a decisão de tomar as rédeas da nossa vida e seguir os nossos sonhos de verdade.

Um estudo de personagem para uma possível versão da Joana (2020).

Eu fui, aos poucos perdendo o brilho nos olhos e a vontade de viver. Eu não queria estar lá.

Minha imaginação era o meu bem mais precioso... e ela estava morrendo aos poucos.

Eu já não tinha motivos para continuar e nem forças para mudar de vida. Então eu conheci a pessoa que me fez enxergar um outro lado da vida: o Amor. Conheci meu marido a bordo e ele me fez sentir viva mais uma vez. Em 2020 nos casamos e eu finalmente tive forças para concluir o curso de Ilustração de Livros Infantis pela London Art College. Continuei embarcando por mais alguns anos, mas esse continuava não sendo o meu sonho.

E mesmo com uma vida incrível e um marido que me amava mais do que tudo, voltei a sentir aquele vazio dentro de mim. Era algo que eu não conseguia mais aguentar. Era como se eu tivesse com um travesseiro bem grande sufocando aquele sentimento, enquanto ele crescia até o ponto em que o travesseiro não fosse grande o suficiente para aguentar os gritos que vinham de dentro da minha mente.

Eu PRECISAVA realizar o meu sonho. Eu PRECISAVA fazer algo que preenchesse aquele vazio existencial e calasse aqueles grito lancinante sufocado dentro da minha cabeça.

Em 2024 eu tive uma crise depressiva extrema e, com o apoio do meu marido, pedi demissão. Comecei a organizar meus papéis, anotações, histórias... e reencontrei a Joana (que ainda se chamava Duda).

Em novembro de 2024 eu recomecei a história. Reescrevi, reformulei e redesenhei.

Em novembro de 2024 a Joana recebeu este nome.

Trabalhei no livro até fevereiro de 2025. Apresentei para uma editora, mas eles queriam modificar a história e isso era algo que eu não aceitaria. Não com essa história...

Essa história salvou a minha vida, recuperou a minha imaginação e vontade de viver. Não permitiria que um desconhecido tirasse ela de mim assim, apenas para preencher seu próprio ego... (quando perguntei o que seria modificado, a pessoa não quis me responder, apenas disse que "eles SEMPRE modificavam os textos". Não foi uma resposta boa para mim.)

Então procurei outra editora que mantivesse o meu texto original. Decidi pagar por conta própria a publicação dele. Eu precisava concluir o processo. Precisava finalizar este processo de cura.

No dia 29 de maio de 2025 ele foi publicado.

Caro(a) leitor(a), se você chegou até aqui, eu te agradeço.

Eu costumo falar o seguinte:

"Como a arte é um reflexo da alma do artista, você pode encontrar parte da minha alma em algumas das minhas obras."

Este livro contém milhares de pedacinhos da minha alma. Eu a coloquei em cada ilustração, cara recorte e cada cor. Então, eu lhe peço, com todo o meu coração, caso você a encontre, seja gentil com a minha alma, ofereça-lhe um sorriso, um café ou uma xícara de chá... e fale um pouco sobre a vida.

Com amor,

Robbie.